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As Damas de Branco e as sanções contra Cuba

par Salim Lamrani

Publie le Sábado 11 de mayo de 2013 par Salim Lamrani - Open-Publishing

Berta Soler, representante das "Damas de Branco”, defende manutenção do embargo contra Cuba

Durante sua turnê pelos Estados Unidos em abril de 2013, a dissidente Berta Soler, que dirige o grupo Damas de Branco, se pronunciou publicamente a favor da manutenção das sanções econômicas contra Cuba. Durante sua fala no Congresso, ela fez conhecer sua oposição a uma mudança da política de Washington: “Respeito as opiniões de todo o mundo, mas a minha, a das Damas de Branco, é que não se tire o embargo”.

As sanções, vigentes desde 1960, afetam as categorias mais vulneráveis da sociedade, isto é, as mulheres, os idosos e as crianças, sem afetar os dirigentes da nação. Por isso, a imensa maioria da comunidade internacional se opõe ao que considera um anacronismo da Guerra Fria, ao mesmo tempo cruel e ineficaz. Em 2012, pela vigésima primeira vez consecutiva, 188 nações das 192 da Assembleia Geral das Nações Unidas condenaram o estado de sítio contra a população cubana.

Para justificar sua posição, Soler explicou que compartilha da política de hostilidade dos Estados Unidos em relação a Cuba, agregando que é indispensável para derrubar o governo cubano. “Nosso objetivo é asfixiar o governo cubano”, precisou. Também sublinhou que para ela “o embargo [é] um pretexto” e culpou as autoridades da ilha pelas dificuldades econômicas.

O grupo “Damas de Branco” foi criado em 2003 depois da prisão de 75 dissidentes, acusados de serem financiados pelo governo estadunidense, os quais a justiça cubana condenou severamente. É composto por membros das famílias de opositores, todos os quais foram libertados depois de um acordo assinado entre a Igreja Católica, Espanha e Havana em 2010.

Soler não negou em estar em contato com a diplomacia estadunidense presente em Cuba e inclusive admitiu receber apoio da SINA (sigla em espanhol de Seção de Interesses Norte-americanos em Havana). Questionada a respeito, reconheceu que a organização foi criada sob a égide de James Cason, chefe da SINA em 2003, a quem não vacilou em chamar de “o padrinho das Damas de Braco”, agradecendo “a ajuda contínua da SINA”. A representante das Damas de Branco reivindica abertamente a ajuda dos Estados Unidos: “O mais importante é que temos sim apoio dos funcionários [da SINA]. Sempre tivemos as portas abertas”.

Max Lesnik, diretor da Rádio Miami e partidário de uma normalização das relações entre Cuba e Estados Unidos, expressou seu desacordo com Berta Soler: “Sua posição coincide com a da extrema direita cubana, herdeira da ditadura de Batista, dirigida pelo antigo congressista Lincoln Díaz-Balart, cujo pai era vice-ministro de Interior de Batista. Vai contra os interesses do povo cubano e reflete o desarranjo moral da oposição cubana.

Advogar pela manutenção das sanções econômicas enquanto elas afetam gravemente o bem-estar do povo cubano é eticamente inaceitável. Ninguém em Cuba está a favor da manutenção do embargo, nem mesmo os setores mais insatisfeitos da sociedade. Da mesma maneira, é inevitável apontar uma contradição: por um lado Soler exige aqui, nos Estados Unidos, ajuda para um grupo, e por outro, reclama mais sofrimento para seu próprio povo, pedindo a imposição de um bloqueio total, com a supressão das viagens familiares e das remessas”.

Mais surpreendentemente ainda, Soler também exigiu a liberação de “todos os presos políticos”. Veja bem, segundo a Anistia Internacional, atualmente não há nenhum preso político em Cuba. A agência de notícias espanhola Efe recordou que “Cuba libertou todos os presos que a Anistia Internacional qualificou como presos de consciência”.

A BBC de Londres confirma: “Foram libertados todos os presos no ano passado [2010] em virtude de um acordo conseguido pela Igreja Católica Romana, e alguns deles se exilaram na Espanha. Mas as Damas de Branco seguiram se manifestando a favor de outros 50 presos condenados por crimes violentos, tais como sequestros, que elas consideram políticos”.

Por sua vez, a agência estadunidense Associated Press observa que estes “normalmente não deveriam ser considerados presos políticos […]. Um estudo minucioso permite ver a presença de terroristas, sequestradores e agentes estrangeiros”, na lista. Sublinha que “foram condenados por terrorismo, sequestros e outros crimes violentos, e quatro deles são antigos militares ou agentes dos serviços de inteligência condenados por espionagem ou por revelar segredos de Estado”. Alguns realizaram incursões armadas em Cuba e pelo menos dois deles, Humberto Eladio Real Suárez e Ernesto Cruz León, são responsáveis pela morte de vários civis, respectivamente em 1994 e 1997.

Por sua vez, a Anistia Internacional afirma que não pode considerar essas pessoas “presos de consciência” já que se trata de “gente julgada por terrorismo, espionagem, assim como aqueles que tentaram e inclusive conseguiram explodir hotéis. É claro que não vamos pedir sua liberdade e não os qualificaremos como presos de consciência”.

Ricardo Alarcón, antigo presidente do Parlamento cubano, foi mais preciso. A respeito das exigências das Damas de Branco, perguntou o seguinte: “Por que não dizem que estão pedindo a liberdade daquele que assassinou a Fabio di Celmo”, um jovem turista italiano assassinado em 1997 depois de um atentado a bomba?

Por estas razões, a oposição cubana se encontra ilhada em Cuba e não dispõe de nenhum apoio popular. É a constatação lúcida de Jonathan D. Farrar, antigo chefe da SINA, em uma carta ao Departamento de Estado. Segundo ele, os dissidentes “não têm influência na sociedade cubana e não oferecem alternativa política ao governo de Cuba”. E os que exigem mais sofrimento para o povo cubano, ainda menos.

(*) Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu útlimo livro se chama The Economic War Against Cuba. A Historical and Legal Perspective on the U.S. Blockade), New York, Monthly Review Press, 2013, com prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade.
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